Iniciei, pessoalmente, a conversa
com a Mariana Morais Pinheiro – a jornalista da Time Out Porto que me convidou,
pelo Instagram, para uma entrevista para a edição impressa – a contar-lhe como sonhava com ser escritora e
como o ingresso em Ciências da Comunicação, na Universidade do Minho, muitos anos
mais tarde, se revelaria como uma adaptação às exigências da vida adulta.
Durante esse percurso, eu descobri que o exercício do Jornalismo não me
satisfazia pessoal e profissionalmente e, foi então que, num rasgo de sorte,
comecei a falar com a Priscilla de Sá: a jornalista, coach e psicóloga
brasileira que ajuda mulheres a conquistarem as suas carreiras de sonho. Numa
altura em que a minha vida era desorganizada e em que eu representava o mundo
como um lugar mau, a Priscilla ajudou-me a construir uma perspectiva optimista
sobre a vida e a tomar a decisão – e o comprometimento! – de terminar a
licenciatura em Ciências da Comunicação para, depois disso, ingressar no
Mestrado Integrado em Psicologia. A diferença entre as duas profissões? É que
as palavras, em Comunicação, informam mas, em Psicologia?, em Psicologia as
palavras transformam! Então, eu não desisti do sonho de ser escritora: eu ajudo
pessoas a construírem as narrativas que vão empoderar as suas vidas.
Aqui estão (alguns) excertos da Time
Out Porto:
1.
Ana traz o
Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, debaixo do braço. Senta-se na esplanada
e dá um jeito ao cabelo, comprido e escuro, antes de começar a falar com um
desembaraço fora do comum. “Eu gosto muito de escrever e quando era mais nova
queria ser escritora. Acabei, por isso, por ir para Jornalismo na Universidade
do Minho. Mas, durante o curso, descobri que também gostava muito de
Psicologia”, conta a blogger, autora do the-orange-letter.blogspot.pt, onde
tanto entrevista chefs como designers.
2.
Com mais de
4000 seguidores no Instagram, Ana, a estudar Psicologia no Porto, admite que
esta área lhe tem sido útil durante as entrevistas. “Aplico algumas técnicas e
as pessoas ficam muito mais comunicativas.”
3.
“É o Ruby
Woo da MAC e é um bestseller. Um batom vermelho nem sempre fica bem a toda a
gente, mas este assenta em quase todos os tipos de pele. É preciso coragem para
o usar e o vermelho é a cor da coragem.”
Esta é a minha opinião:
1.
Este excerto
e parte do segundo são imprecisos quanto à minha formação. A Universidade do
Minho não tem um curso de Jornalismo e eu não frequentei Jornalismo na
Universidade do Minho. Eu frequentei Ciências da Comunicação na Universidade do
Minho. Eu sou licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho
e frequento o Mestrado Integrado em Psicologia da Universidade do Porto [FPCEUP
- Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto].
2.
O que aqui
fica implícito é que eu uso técnicas de Psicologia para arrancar informação aos
entrevistados e isto, inclusivamente, tem implicações éticas. Futuros
entrevistados vão sentir-se desconfortáveis e profissionais de Psicologia vão
insurgir-se contra mim, porque a Psicologia não é para isto. Se a Psicologia me
ajuda em alguma coisa, no momento da entrevista, é a respeitar a subjectividade
do entrevistado e a não deixar que a minha subjectividade fale mais alto do que
o que ele declarou. Por isso é que eu submeto todas as entrevistas à percepção
dos entrevistados antes de as publicar - porque isto é fundamental para eu não
ter que me explicar para o resto da vida.
3.
Toda a
mulher tem um vermelho que fica bem com ela - porque há um tom de vermelho para
cada mulher. A dificuldade está em encontrar um tom de vermelho que assente bem
generalizadamente. Esse é um desafio dos maquiadores e essa é a razão pela qual
eu disse que o Ruby Woo da Mac é um best-seller. Então, não é o vermelho
que não fica bem, é o tom, porque toda a mulher tem um vermelho - um tom de
vermelho - que (lhe) fica bem.
Desiludida com o que aqui se
apresenta, enviei um e-mail à Mariana Morais Pinheiro, com conhecimento da
directora da revista Time Out Porto, Sara Sanz Pinto, a exigir direito de
resposta. Escrevi que me parece necessária uma reparação porque esta entrevista
é injusta, diminui quem eu sou e não faz jus à minha formação, nem às
motivações pelas quais eu tomei estas opções profissionais. Escrevi, também,
que me parece necessária uma restauração da verdade com uma nova entrevista ou
com a reformulação desta entrevista. A jornalista Mariana Morais Pinheiro e a
directora da revista Sara Sanz Pinto, Time Out Porto, não atenderam ao direito
de resposta – previsto no Código Deontológico do Jornalista – e deram o caso
por encerrado.
Se alguma vez olhei para trás e
questionei o meu percurso profissional, desta vez, com este acontecimento, eu
coloquei um epitáfio sobre o túmulo. Afinal, ainda que de modo independente e
sem carteira profissional, o meu exercício é mais sério e mais verdadeiro para
com o entrevistado e para com o leitor.
É uma lição de vida: os
profissionais de comunicação têm que redobrar o cuidado que têm com a imagem
dos outros e este episódio reforçou o cuidado que eu tenho quando vou
entrevistar alguém.
Esta publicação surge como a
intenção, independente, de exercer o direito de resposta.
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