quinta-feira, 26 de abril de 2018

ABRIL SEMPRE


Pensei
que a liberdade vinha com a idade
depois pensei
que a liberdade vinha com o tempo
depois pensei
que a liberdade vinha com o dinheiro
depois pensei
que a liberdade vinha com o poder
depois percebi
que a liberdade não vem
não é coisa que lhe aconteça
terei sempre de ir eu.
 
Sónia Balacó




Um século de investigação em torno da inteligência não foi suficiente para clarificar a delimitação psicológica deste constructo. Sabemos que há convergência de factores genéticos e culturais, mas não conseguimos apontar, ainda, a percentagem de contribuição de uns e de outros no desempenho total (Almeida, Guisande e Ferreira, 2009).
Carol Dweck propõe a existência de duas concepções opostas da inteligência –  a concepção estática e a concepção dinâmica – que se “têm revelado muito importantes, porque influenciam o pensamento e a acção dos indivíduos, sobretudo em contextos de realização, logo, afectam a escolha dos objectivos de realização, as atribuições causais para os resultados (sucessos ou fracassos), a eficácia da realização e a forma como é interpretada, com impacto nas expectativas de realização futuras” (Faria, 2014).
A concepção estática traduz crença de que a inteligência é um traço fixo e estável, um conjunto de competências que o indivíduo dificilmente pode alterar ou controlar; promove a adopção de objectivos centrados no resultado, baseados na demonstração de competência através do evitamento do fracasso, bem como na prossecução de padrões de realização de desistência.
A concepção dinâmica incorpora a crença de que a inteligência é um conjunto dinâmico de competências, susceptível de desenvolvimento através do investimento e do esforço pessoais, logo, controlável; promove a adopção de objectivos centrados na aprendizagem, baseados no desenvolvimento e promoção da competência, mesmo que tal investimento confronte o indivíduo com o fracasso, bem como na prossecução de padrões de realização de persistência.
Os processos de socialização são decisivos para as concepções pessoais de inteligência e “o desenvolvimento da inteligência (…) requer a incorporação das normas e dos valores sociais que determinam os critérios de sucesso ou de fracasso, (…) não podendo, portanto, ser concebido independentemente dos valores sociais e dos objectivos da cultura” (Faria, 2004).
Comportamentos de realização distintos, na mesma cultura, podem ser explicados por factores relacionados com a diferenciação de género. Por exemplo:

×          As raparigas manifestam menor satisfação com os seus sucessos e evidenciam expectativas mais baixas;
×          As raparigas têm a sensação de controlar menos o seu destino;
×          As raparigas apresentam menor autoestima no domínio da realização;
×          As raparigas internalizam mais os fracassos, culpando-se por eles, e externalizam mais os sucessos, atribuindo-os à influência dos outros;
×        As raparigas têm expectativas de sucesso mais baixas do que os rapazes, nos domínios da realização escolar, desportiva, de competência motora ou outras. 

Se a inteligência, assim como a liberdade, pode, afinal, ser uma questão escolha… Há que libertar as raparigas.

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