Ana Rocha: Quem é a Catarina Rosa?
Catarina Rosa: Eu acho que o que estou a fazer agora –
Tail to Tail – acaba por ser um culminar do que fui e do que sou. Aceitei
esta entrevista precisamente porque acho que é mais interessante o trabalho ser,
por conclusão da pessoa em que me tornei, do que o contrário: adaptarmo-nos
pelo trabalho. Tenho 42 anos, nasci em Lisboa. Quando era pequenina queria
ser Médica Veterinária, foi a primeira profissão que escolhi: adorava animais –
principalmente minhocas, lagartixas, camaleões. Quando morria um peixe, no
aquário do Colégio, era eu que dava conta, e fazíamos um enterro do peixe. Isso
não foi muito estimulado pelos meus pais.
"Aceitei
esta entrevista precisamente porque acho que é mais interessante o trabalho ser,
por conclusão da pessoa em que me tornei, do que o contrário: adaptarmo-nos
pelo trabalho."
A.R.: Viviam em apartamento?
C.R.: Vivíamos em apartamento. Chegamos a ter um cão, um pastor
alemão, durante uma semana. Na altura usava-se alcatifa e, quando o cão começou
a fazer xixi no chão, foi para casa de uns tios que tinham uma moradia. Depois
tive periquitos, hamsters, mas nunca cães, nem gatos. Acabei por não
estimular muito a relação com os animais. Sou licenciada em Design Gráfico,
pelo IADE. Gostava de ter seguido pintura, porque era onde eu me sentia bem, o
que eu fazia melhor e onde eu me evidenciava no grupo – no Colégio, depois no Liceu
e também na Faculdade. Na altura tinha um tio, pintor, que não vivia disso mas
que fazia várias coisas – era o verdadeiro artista. Era caricaturista, fazia os
cenários do teatro de revista do Maria Vitória, escrevia letras para fados,
para marchas, fazia escultura. Na altura, eu queria ter seguido Belas Artes e Pintura.
Os meus pais eram contra. Nem pensar, porque não dá nada! Isso é estudar
para nada! Na altura, era um bocadinho assim. Precisávamos de um patrão
para ter alguma estabilidade. Acabei por me licenciar em Design Gráfico,
pelo IADE, e ainda trabalhei em algumas Agências de Comunicação. Fazia Design
Gráfico. Em algumas dessas Agências experimentei ser Account Comercial. Adorava
a relação com o público, o tentar perceber o cliente, o passar da mensagem ao Designer.
Fiquei sempre dividida entre a parte mais relacional – emocional – e a parte
mais técnica. Mais tarde, acabei por trabalhar numa Consultora Imobiliária. Dividia-me
entre o Departamento de Marketing e o Design Institucional da empresa. Quando
tirei Design nunca mais pintei.
A.R.: Pintava quando era adolescente?
C.R.: Não. Quando era adolescente tinha uma vida social muito
activa. Praia. Amigos. Noitadas. Depois de querer ser Médica Veterinária,
comecei a desenhar e a perceber que gostava de desenhar. Fiz um curso de Cinema
de Animação – Gulbenkian – e concorri a um cargo numa empresa que ia abrir, de
Cinema de Animação, em Portugal. Fui seleccionada e escolhida para entrar na
primeira fase mas, na altura, estava no terceiro ano da faculdade, no IADE, e
não podia deixar o ano a meio. Deixei-me para segunda fase – entrava no segundo
grupo para a empresa e acabava o terceiro ano – mas, entretanto, aquilo não
correu bem. É mais barato comprar Cinema de Animação do que fazer Cinema de
Animação em Portugal. A empresa acabou. Entretanto, nunca mais pintei. Um
dia estava a vir para casa e, no autocarro, passei por um cartaz, um anúncio,
que dizia Aulas de Pintura. “E se eu começasse, outra vez, a pintar?”
Tinha 34 anos. Acho que desde o 12º ano que não pintava. Eu tirei o curso Tecnológico – de 10º, 11º e 12º – de Pintura e Escultura, de Artes e Ofícios,
para fugir Matemática. Gostava muito de ter frequentado a António Arroio, que
era uma escola de artes aqui em Lisboa, mas era muito longe de casa, nunca se pôs
essa ideia.
"É mais barato comprar Cinema de Animação do que fazer Cinema de
Animação em Portugal."
A.R.: O seu percurso poderia ter sido diferente?
C.R.: Acredito que sim. Ia ser tudo diferente. Os amigos iam ser
diferentes. A abordagem à Arte ia ser diferente. A minha personalidade. E às
vezes penso nisso, no tempo que poderei ter perdido a tentar ser uma Designer
que nunca fui porque nunca foi boa a Design. Na António Arroio
talvez pudesse ter explorado mais o lado criativo e hoje, talvez, estivesse a
fazer outro tipo de pintura e não estava a… Não era isto que estava a fazer.
Qualquer coisa que mude no nosso percurso muda-nos. Seria muito diferente. De
certeza. No dia a seguir voltei a apanhar o autocarro, parei e fui saber mais
sobre as Aulas de Pintura. Era o Vítor, um senhor com já oitenta anos. Da
velha guarda, do tempo do meu tio. Conheciam-se e tinham andado na António Arroio
juntos. Era um senhor muito engraçado de se estar. Depois uma amiga minha também
veio para as aulas. Levávamos queijinhos e tostas e estávamos ali numa de
conversa e pintura. O Vítor propunha uns exercícios muito românticos, de
mulheres com um chapéu muito grande a passear a beira da água, de naturezas
mortas… Eu não adorava e não queria pendurar em minha casa. Por isso, perguntei
se podia ser eu a escolher o tema. Eu já conhecia o que faço porque tinha uma
amiga com um quadro gigante de uma cadela vestida de senhora – de um belga,
Thierry Poncelet. Sempre que se entrava em casa dela, era a primeira coisa que
se via. Thierry Poncelet é de restauro: compra quadros que já ninguém conhece –
a avó do avô – , em leilões, velharias, feiras, enfim, restaura-os e pinta uma
cabeça de cão por cima.
A.R.: É sempre um cão?
C.R.: É sempre um cão. São sempre cães. Esta minha amiga tinha
um quadro desses. Às vezes, à espera dela, ficava horas a olhar para o
quadro. A pensar. “É só um cão. É um cão. É o quadro mais importante da
casa – está na zona mais importante da casa – e é só um cão.” Não é a
avó, não é a mãe, não… Aquilo mexia comigo. A importância que aquele cão,
que não era ninguém, tinha naquela casa: a casa era linda, muito bem decorada.
Entretanto, eu tinha um amigo cujo cão não tinha um olho. Pensei “vou
pintá-lo”, vou oferecer-lhe um quadro do cão com uma gola à Camões e com
uma pala no olho. O objectivo era ter vontade de ir para as aulas. Aquele quadro
demorou seis meses a fazer. Hoje em dia já não demoro tanto.
“É só um cão. É um cão.
É o quadro mais importante da
casa – está na zona mais importante da casa – e é só um cão.”
A.R.: São verdadeiros retratos de pessoas que substitui pela cabeça do animal.
C.R.: Sim. A criatividade está em adequar a roupa e as cores à
personalidade do animal. Depois, há coisas engraçadas em que entra o Cinema de Animação
– o que eu faço acaba por ser o conjunto de tudo o que eu quis ser. No Photoshop
– faço o esboço, tenho a composição e depois passo, à vista, para a tela – é
muito diferente pôr um cão que está sentado com a cabeça erguida ou flectida
para um dos lados. Às vezes até me rio sozinha a fazer as montagens porque
parece que mexem. Eu acabo por lidar com animais, que era o que eu queria.
A.R.: As pessoas enviam as fotografias dos animais?
C.R.: Enviam, várias. Eu até peço, normalmente, várias
fotografias. Peço a três quartos, fotografias em que se vejam os dois olhos mas
que não sejam de frente – de frente ficam com pouca perspectiva, com pouca
profundidade. Peço fotografias em que se vejam, se os tiverem, os elementos
diferenciadores. Pergunto se têm preferência por cores ou por roupa.
A.R.: Partilha o esboço antes de passar para a tela?
C.R.: Não.
A.R.: Essa é uma vantagem em relação ao Design.
C.R.: É! (Risos.) Por isso é que eu digo que eu estou a
meio das escadas – não é o estágio final, mas todos os degraus que eu subi
contam. Há um cliente que pediu para ver. Pedi-lhe para me dizer as cores, o
estilo e para confiar em mim. O que acontece no Design – e poderia
acontecer aqui – é que as pessoas já não estão a discutir o que fica bem ou
mal, o que funciona e o que não funciona. É ego. É difícil gerir. É
obvio que me adapto para espaços mais comerciais – como o Nicolau, a Amélia ou
o Basílio. A Amélia foi pintada para aquele espaço. Para o primeiro
Nicolau, consideraram-se as cores dos azulejos. Há, agora, um segundo
Nicolau. No Porto. O mesmo cão vestido de outra forma, modernizou-se – mais pintarolas.
É outro retrato. Nunca gostei de mostrar trabalhos não finalizados. Não
funciona, promove stress e, felizmente, as pessoas têm confiado em mim e
têm – a maior parte das pessoas, quase todas – reforçado precisamente isso. “Confio
em si, faça o que quiser.” Tudo foi preciso para chegar aqui – inclusive, a
obstinação do meu perfil. O Tail to Tail suma a pessoa que eu sou e a
minha experiência de vida. Às vezes pergunto-me se terei perdido tempo a
frequentar a licenciatura em Design. Acho que não. Está tudo está na
mochila.
A.R.: Tem um dom?
C.R.: Eu acho que poderei ter. Eu acho que há vários tipos de
inteligência e eu poderei ter uma inteligência visual ou, então, uma
inteligência visual mais alta do que tenho a inteligência motora. Tenho dois
pés esquerdos. Na primeira, segunda e terceira classe era sempre a última a
acabar a cópia, era a pastelona da sala mas, no final, talvez fosse a
aluna com a letra mais perfeitinha e com a folha menos amarrotada. Quem é a
Catarina Rosa? Acho que sou uma pessoa do pormenor e do detalhe, mais do que do
foco no todo. Eu não me recordo da pessoa gorda ou magra, mas recordo-me do
brinco. Reparo mais nos detalhes, e muitas vezes preciso de pedir opinião
acerca dos quadros porque estou excessivamente focada nos pormenores. Uma
vez pintei um quadro, uma encomenda, de três miúdos a comer esparguete. O quadro
tem dois metros de altura. Os miúdos estão com as mãos cheias de esparguete e
eu pintei o esparguete todo: cilindros perfeitos, com o tomate. Quando me
afastei não se via nada. O quadro tinha dois metros de altura, ia ser pendurado
numa parede alta e eu precisei de o desconstruir. O dom? Acho que todos temos
uma tendência mais para um lado do que para o outro. Eu acredito que tenho a
minha inteligência visual mais desenvolvida – também a vim desenvolvendo e,
depois, o que eu tenho sentido é que quanto mais pinto, mais rápida sou a
pintar e mais aperfeiçoo a minha técnica. Já vi muitas pessoas com quem me
cruzei na faculdade, que não desenhavam bem, por tanto desenharem, a ganharam
um traço certo, uma precisão no traço que resulta em desenhos com identidade. Desenhar
estimula-se mesmo. Não fica logo bem. Se eu tivesse um dom, se fosse uma
coisa fora de série… Com o Basílio eu chorei. Porque é que eu não estou a
conseguir? Porquê? Porquê? Não lhe chamaria dom. Dom é fazer com uma perna às
costas.
"Eu não me recordo da pessoa gorda ou magra, mas recordo-me do
brinco. Reparo mais nos detalhes, e muitas vezes preciso de pedir opinião
acerca dos quadros porque estou excessivamente focada nos pormenores."
A.R.: O Cristiano Ronaldo...
C.R.: Eu não sei se o Cristiano Ronaldo tem um dom. O
Cristiano Ronaldo tem muito trabalho. O Messi tem um dom – talvez, não trabalhado.
O Cristiano Ronaldo tem muito trabalho.
A.R.: O que vale mais: ter um dom ou trabalhar arduamente?
C.R.: Eu acho que é o conjunto. Um dom todos temos.
A.R.: Nesse caso, descobriu o seu dom?
C.R.: Acho que já descobri qual é o meu papel no mundo.
A.R.: Em palavras, como descreveria o seu papel no mundo? Numa
frase.
C.R.: O que eu estou a fazer. Neste momento eu tenho muitas,
muitas encomendas. O que me dá gozo nisto é – também é discutível se é arte, se
não é arte, e acaba por ser só uma cópia de uma fotografia com a minha escolha
das roupas e identificação do cão e identificação do cliente e isto também tem
que ver com a designer que fui – e a arte que vejo é quando entrego o quadro. Com
algumas encomendas, eu tenho possibilidade de ver a reacção de pessoas que
recebem o quadro e que não estão à espera. Várias pessoas que desatam a chorar.
A minha arte é exactamente o poder de entregar essa emoção. Quando uma
pessoa me diz “o meu cão morreu há um mês e eu só vou descansar quando o
tiver pendurado na parede de minha casa”. Eu sinto e sei que consigo dar
esse descanso a essa pessoa, eu tenho a obrigação de o fazer. Não é um peso. Em
que posso alimentar o mundo? O que posso tirar de mim e dar ao mundo? O que eu
vejo aqui de artístico é isso. Por exemplo, soube agora, a propósito de uma
encomenda, que o quadro é uma prenda de um filho para dar a uma mãe. Ele está
numa lista de espera, grande, e alguém que o conhece ligou-me e pediu-me para
avançar porque a mãe está em estado terminal e ele quer dar o quadro à mãe. Era
de um cão da mãe. Se eu tenho isso na mão…
A.R.: Há um prazo?
C.R.: É raro ultrapassar o prazo. Felizmente as pessoas são
pacientes e, por norma, não me comprometo. Se sei que é impossível digo que não
vou conseguir. Acho que, neste momento, tenho quase uma missão, principalmente,
numa coisa que eu descobri que não tinha. Como eu não tinha relação com
animais, não conseguia perceber essa relação – percebia que há amor, mas não
sabia a tamanha intensidade. Comecei a receber os e-mails das pessoas. “Quero
o meu cão”; “Dorme comigo”; “Já me salvou tantas vezes”; “É o dono da casa.”
Comentei com o meu marido que queria experimentar isto – ele já tinha tido um
cão. Com periquitos não conseguimos estabelecer uma grande relação emocional. (Risos)
Veio a Olívia e hoje conheço o sentimento. Acho que há aqui uma lacuna entre
quem tem um animal de estimação e quem o estima. Há uma relação que é
negligenciada por quem não conquista esta relação. Por exemplo, eu tenho um
caso de três filhas que ofereceram um retrato de uma cadela à mãe e a mãe
emocionou-se, não só por tê-la retratada, mas por serem as filhas a oferecem o
presente – porque as filhas sempre disseram que a mãe gostava mais da cadela do
que delas. É um reconhecimento e uma aceitação do amor que essa mulher tem pelo
cão. Portugal não é pet friendly, de todo. O amor é de dentro
para fora. Se eu amar um balde, amo um balde. O amor é que interessa.
Acho que é muitas vezes negligenciada a relação entre o Homem e o animal. O
que faço é um reconhecimento da importância que o animal poderá ter para a pessoa.
Por exemplo, acho que se perdemos um cão, se um cão morre, nós deveríamos
ter direito dispensa por falecimento – como temos quando morre o marido. Eu
até acho que a ausência de um cão é mais sentida do que a ausência de algumas
pessoas. Eu, felizmente, ainda não a experimentei. Só experimentei a
ausência de pessoas próximas, a ausência do cão ainda não. Por exemplo, o meu
pai morreu e eu estava com ele duas vezes por semana, porque não vivia com ele.
Falava com ele todos os dias, ao telefone, e há situações em que me lembro dele:
à quarta-feira, quando costumava estar com ele, e ao fim-de-semana, quando me
encontrava com ele no café onde costumava estar. Sempre que passo por lá olho,
sabendo que ele não está lá. Continuo a olhar. Agora, o cão… Eu vou à casa de
banho e a Olívia fica aos meus pés – se não saltar para cima do meu colo; eu
vou à cozinha e a cadela espera para lamber a tampa do iogurte; eu estou a
dormir e a cadela, se pudesse, dormia comigo; se encontro alguém na rua e páro
para conversar, a Olívia senta-se em cima dos meus pés; eu estou a ver
televisão e a cadela está entre mim e a televisão. É uma ausência que se nota,
quando se perde, e que deve dar muito mais ferimento porque se nota mais a
ausência. Cão, gato, o que for. Os animais estimação estão muito presentes. São
sombras. Acho que eu tenho… Não sei pôr isto numa frase, mas acho que tenho
uma missão mais emocional do que técnica, de pintura. Esta coisa da
entrevista… Há muita história. São muitas histórias. Cada história é um pedido importante
e emotivo. Eu tinha um e-mail já pré-escrito para responder, mas não
consigo usá-lo. Acho que quando nos começamos a fazer o que gostamos e a
entregar-nos de coração, a vida vai nos levando por um caminho que espero certo.
Neste momento, tenho 40 encomendas.
"Por exemplo, acho que se perdemos um cão, se um cão morre, nós deveríamos
ter direito dispensa por falecimento – como temos quando morre o marido. Eu
até acho que a ausência de um cão é mais sentida do que a ausência de algumas
pessoas."
A.R.: É trabalho para quanto tempo?
C.R.: Para dois ou três anos. Neste momento, acho que vou
começar a dar prioridade aos pedidos mais emocionais do que à brincadeira, “se
eu fosse um animal, que animal seria?”. Dá-me mais gozo fazer justiça–
posso estar errada na minha justiça –, procuro muito a justiça da situação. Posso
ter a minha melhor amiga a pedir-me para a desenhar como se fosse um animal mas,
se eu tenho uma pessoa, que eu não conheço de lado nenhum, a escrever-me, finalmente,
um e-mail – e eu sei que esse e-mail está a ser escrito a chorar –, eu
vou dar prioridade a essa pessoa que eu não conheço. Pela minha justiça,
que não sei se é a certa. Tento ser justa. Não sou muito ambiciosa.
A.R.: Não é muito ambiciosa. Como?
C.R.: Não sou muito sonhadora. Não tenho muitos projectos. Acho
que a minha ambição é ser feliz.
"Acho
que a minha ambição é ser feliz."
A.R.: É feliz?
C.R.: Sou! Sou, sou, sou. Acho que tenho alguma tristeza dentro
de mim, mas é do meu perfil. Sou uma pessoa feliz.
A.R.: Essa tristeza está associada a eventos específicos da sua
vida ou é uma característica de personalidade?
C.R.: Acho que é uma característica de personalidade. Sou todos
os dias feliz. Sou mesmo. É um estado de espírito. Sou feliz. Tenho a vida
que nunca ambicionei ter. Nunca ousei ambicionar ter a vida que tenho.
Vivo do que gosto e tenho imenso gozo em pintar – embora tenha estes
contratempos.
A.R.: Acorda sem despertador?
C.R.: Acordo sem despertador. Sinto-me a respeitar a minha
natureza. Acho que estou numa fase boa. Não sei o que vem a seguir. Neste
momento, estou numa fase boa. Não tenho a ambição de ser… Às vezes as pessoas
dizem-me “devias fazer uma exposição” ou “devias começar a mudar para
ser mais artístico…”. Não tenho essa ambição: a de ter uma galeria, a de
ser considerada artista, não tenho. Às vezes as pessoas pecam – pecamos todos –
por querer meter as coisas em sacos. Eu não me considero nem artista, nem Designer,
nem artesã. Acho que sou um bocadinho de tudo. Não encaixo em nenhum saco
que já exista. Por isso não tenho a ambição de chegar a lado nenhum. Espero que
as mãos continuem a trabalhar e que os olhos deixem, também, porque vejo mal.
Espero continuar… Gostava de… Há muita gente que gostava de ter um quadro meu e
não pode pagar.
A.R.: Qual é o valor de um quadro seu?
C.R.: Neste momento estou a cobrar quase 3000€. Fui
aumentando os valores.
A.R.: Quanto cobrou pelo primeiro quadro?
C.R.: O primeiro foi oferecido. O primeiro, a cobrar, 100€. Isso
é giro também. O projecto chama-se Tail to Tail – de cauda em cauda – precisamente
porque quando comecei a ter as aulas de pintura com o professor e fiz o tal cão
para o meu amigo, outro amigo nosso viu o cão e pediu para fazer o mesmo. “Queria
ter o meu Boris assim pintado”. Então eu fiz o Boris dele, penso que por 100€.
Depois um amigo dele também pediu. 200€. Passou para 300€…
A.R.: Como sabia que podia aumentar o preço?
C.R.: Comecei a ter mais encomendas e as pessoas diziam-me que
sim. Durante muito tempo, depois, pedi 600€. Tenho alguns amigos que pintam, e
artistas plásticos, que me diziam “tu tens que subir os preços, até por nós,
porque isso está fora dos valores de mercado”.
A.R.: Há muitas pessoas que a procuram e que dizem que não podem
pagar?
C.R.: Algumas.
A.R.: Há pessoas que tentam negociar?
C.R.: Por acaso não. Saem de forma airosa. “Vou falar com o
meu marido e volto para dizer alguma coisa”. Não dizem mais. Outras pessoas
respondem: “Ok. Infelizmente não posso pagar. Tenho muita pena mas é justo;
acho um valor justo. É um trabalho personalizado. Infelizmente não posso pagar.”
Mas também tenho muitas pessoas que aceitam os valores. Foi isso que me fez
aumentar os preços, a par da lista, a crescer cada vez mais, que me causava
ansiedade. Há dois anos que digo que queria, particularmente para essas
pessoas que dizem que não podem pagar, fazer quatro, cinco ou seis animais, cães
– Jack Russel, Labrador, Bulldog Francês –, mais comerciáveis, que se vejam
mais na rua, que não são de ninguém ou que eventualmente poderiam ser vendidos
e replicados. Há dois anos que digo que queria. O que é certo é que de 10
encomendas passei para 20, de 20 passei para 40 e precisei de rever e aumentar
os valores.
A.R.: Quando é que decidiu despedir-se? Despediu-se?
C.R.: Não. Estava no meio do processo – já tinha pintado três
quadros –, quando, com a crise, a directora decidiu acabar com o Departamento
de Marketing. Despediu-me. Fui despedida, tinha duas encomendas, já tinha pintado
cinco quadros– na parede, estão expostos dois porcos: eu e o Gonçalo –, tinha
tempo, estava com subsídio de desemprego… Decidi dedicar-me a isto. Ainda que detestasse,
desde sempre, expor o meu trabalho – mesmo na escola.
A.R.: A sua mãe ainda é viva? Valoriza?
C.R.: A minha mãe adora. Eu acho que o meu pai era mais racional.
A minha mãe mais emocional. Herdei do meu pai o preto no branco, a regra que
pode não estar certa e que pode não ser justa mas que é para se respeitar. A
minha mãe é mais emocional e sempre estimulou este meu lado, da pintura, sempre
me deu as melhores canetas, lápis e material de desenho. É uma pessoa que, só agora
é que eu percebo – porque não me lembro desse lado na minha infância –, me dá muita
força. Muitas vezes digo-lhe, “acho que não vou conseguir”. “Catita,
tu quando metes uma coisa na cabeça, tu consegues. Eu sei que tu vais
conseguir. Tu sabes.” Eu só reconheço que isso vem dela agora, porque ela me
diz isto muitas vezes, e eu tenho uma crença, de facto, de que se eu quiser, eu
consigo. Trago isto comigo. Pode ou não ser real.
A.R.: Nunca sentiu necessidade de fazer provas ao mundo porque
sempre teve um público que o entendia?
C.R.: Sim.
A.R.: Ainda que seja duro ouvir que não pendurariam um quadro seu
em casa…
C.R.: Hoje em dia já não é. Ao princípio era mais duro porque eu
não sabia se ia correr bem. Houve um dia em que eu decidi investir nisto: Criar
um perfil no Instagram, mostrá-lo ao mundo, criar uma marca, fazer
cartões e autocolantes para colocar no quadro. Houve dedicação, de minha parte,
ao projecto. Não adorava ouvir “era incapaz”. Hoje em dia, com quarenta
encomendas, é natural. Eu sou a maior fã da Paula Rego. Há muita gente que
não a admira. A Paula Rego não deixa de ser a Paula Rego. Felizmente, neste
momento, estou num lugar de conforto. Tenho muitas encomendas e há muita gente
que valoriza o meu trabalho. Há outros que valorizam mas não gostam e há quem
ache uma palhaçada. Há gostos para tudo. Já não me incomoda tanto mas, se
fizesse uma exposição, era difícil estar lá. Não me sinto confortável com a crítica.
Por outro lado, há uma coisa gira que eu percebi, acho que é um mal da nossa
educação – pelo menos da minha e das que eu conheço. Somos mais preparados
para o fracasso do que para o sucesso. Ou eu fui.
"Eu sou a maior fã da Paula Rego. Há muita gente que
não a admira.
A Paula Rego não deixa de ser a Paula Rego."
A.R.: No início, quando começou a vender quadros, não dizia aos seus amigos?
C.R.: Não, não, no início do Tail to Tail não. Sabiam
alguns. De Cauda em Cauda, precisamente, porque foram aparecendo, um
trouxe o outro. Não costumo partilhar. Quando me perguntam o que é que faço,
digo que pinto e fico, como os brasileiros dizem, encabelada. Fico com mais
vergonha e sem saber como reagir quando é uma coisa boa do que quando é uma
coisa má. Acho que todos estamos preparados para lidar com a crítica. Talvez
tenhamos crescido com isso. Os professores criticam mais do que lisonjeiam e
os pais, acho, também têm um bocadinho essa função – de nos chamar à terra e de
nos tirar o sangue de crianças. Eu sinto algum desconforto com o lisonjeio
e com a crítica positiva, por isso é que não divulgo o meu nome e não exponho a
minha cara. É mais um projecto do que… Eu acho que o Tail to Tail tem
muitas coisas de mim mas é quase um trabalho conjunto. Normalmente os artistas
pintam e expõe o trabalho numa galeria. Os artistas dão de si. O público ou
sente emocionalmente ligado ou não se sente e, se se sente, compra a obra. Aqui,
é um processo diferente. É primeiro a pessoa, que já tem um elo emocional, que
me procura. Eu pinto o que a pessoa quer que eu pinte. Eu sou a Designer
de uma emoção que a pessoa tem.
"Os professores criticam mais do que lisonjeiam e
os pais, acho, também têm um bocadinho essa função – de nos chamar à terra e de
nos tirar o sangue de crianças."
A.R.: Então essa poderia ser a sua missão. Ser uma Designer de emoções.
C.R.: Por exemplo.
A.R.: Vejo uma cara de reprovação. (Risos)
C.R.: Estou a pensar. Sim, porque acho que é importante que eu
não me esqueça do meu percurso.
A.R.: Não se quer definir como Designer.
C.R.: Sim, mas a minha formação é em Design. Há muito em
mim de Designer. Tentar respeitar o que o cliente quer. Mais do que
fazer o que eu quero, é sobre fazer o que o cliente espera. Eu acho que talvez
essa seja a grande diferença entre mim e o artista. O artista expõe-se…
A.R.: Qual é a diferença entre a Arte e o Design? Apreciamos
a Arte e utilizamos o Design.
C.R.: Acho que tem que ver com a relação emocional. O que é
arte? Eu acho que um artista é alguém que nos consegue transmitir emoções e
para mim arte é… Adoro a Paula Rego porque eu consigo ver emoção, consigo ler a
mensagem que quer transmitir e consigo, até pela rigidez do traço, aceder à
intensidade com que desenha. Há pessoas que sentem qualquer coisa com e é
considerada arte um quadrado azul. A mim não me diz nada. Não sei qual é a história
e nunca me preocupei – devia tentar perceber o significado –, mas não me
desperta emoção nenhuma. Há pessoas a quem desperta, por isso é que vale o que
vale e está onde está. O que me diferencia do artista é que eu não estou a dar
de mim, eu estou a receber. O resto é técnica. Acredito que todos temos um dom,
todos vimos equilibrar o mundo de alguma maneira e essa é a grande falha do
nosso Sistema de Ensino: há muita gente que morre sem o ter descoberto. O facto
de crescermos a querer ser todos iguais, a ler os mesmos manuais e a respeitar a
mesma linha formata-nos. Tira-nos da nossa essência. A minha felicidade, neste
momento, tem que ver com, todos os dias, estar em conformidade com a pessoa que
eu sou. O projecto Tail to Tail é o conjunto de tudo o que vivi. Não me
posso esquecer de que fui Designer e de que tenho Design no projecto.
Não me esqueço, também, de que quis ser Médica Veterinária e de que estou a
desenhar animais. De que quis fazer Cinema de Animação e de que há aqui,
também, uma brincadeira com a animação. E pronto, o detalhe e tudo e isso… Cresci
eu a acreditar que era um grande defeito meu – e sempre foi, sempre foi
apontado como um defeito – ser pastelona, ser lenta, demorar muito tempo
a fazer as coisas…
A.R.: Substituiria essa palavra – pastelona – por que
palavra? A palavra de conotação negativa tem uma aplicabilidade positiva.
C.R.: Eu acho que sou perfeccionista.
A.R.: Feito é melhor que perfeito?
C.R.: Hoje me dia não vivo do perfeito, ainda, mas vivo na busca
pela perfeição. Ter muitas encomendas ajuda-me a libertar-me desse
perfeccionismo que, às vezes, é cansativo.
A.R.: O Nicolau trouxe-lhe projecção?
C.R.: Mais a Amélia do que o Nicolau. A Amélia caiu nas
graças das pessoas. É toda pirosa. As pessoas adoram. Tenho muitas pessoas
a pedirem-me. “Faça-me uma Amélia”. Imensa gente. Pedem-me uma Amélia exactamente
igual.
A.R.: Faz, exactamente igual?
C.R.: Não. Não quero repetir e não posso. A Amélia é única e
aquele retrato é único. Não repito. Pedem-me o cão vestido como a Amélia. Vesti-lo
como a Amélia não posso, mas posso utilizar os mesmos tons.
A.R.: Porquê desenhar-se a si e ao seu marido como porcos?
C.R.: Foi um presente, ainda no início da nossa relação. Acho
que parecemos porcos. Acho que temos a cara… Temos a cara muito rectangular, os
olhos pequeninos, não sei porquê, identifiquei-nos, aos dois, como porcos. O
presente era “Pérolas a Porcos”. Ele, o porco, tem uma pérola e ela, a porca,
tem um colar de pérolas. Os porcos somos nós, mas as pérolas também. É um
bocadinho a falta de noção das pérolas que somos. Ele exibe a pérola dele.
Eu não sei se exibo, se não exibo, fico ali no meio-termo. Fazer das pessoas
animais é perigoso. Há animais que se aceitam melhor do que outros. As
pessoas, às vezes, não tem noção de que não têm assim tanto sentido de humor.
E tem graça, mas não tem tanta emoção. Tenho um amigo que é artista conceituado
– tem várias galerias espalhadas pelo mundo – e, no princípio, foi uma pessoa
que me incentivou a avançar com isto. Há uma família cuja casa continuo a
frequentar que tem um quadro meu – foi um dos primeiros que eu fiz – mas,
quando duas crianças entram em casa, têm que remover o quadro da parede porque as
crianças têm medo quadro. Comentei, com esse meu amigo, que me causava algum
desconforto que a minha oferta pudesse ser a origem de um problema. Ele disse, “Catita,
essa reacção é a melhor que tu podes ter. Tu dizes que não és artista, mas ser artista
é isso.”
"As
pessoas, às vezes, não tem noção de que não têm assim tanto sentido de humor."
A.R.: Causar desconforto?
C.R.: Provocar emoções, boas ou más. E fui aceitando. De facto,
é isso. Começar a aceitar o bom e o mau e aprender a fazer do mau o bom.
Converter pastelona em perfeccionista. Fazer uma limonada dos
limões. O meu pai já não apanhou isto. Nem pensar. Já nem apanhou o
primeiro quadro. E às vezes penso. “A pintura nunca deu dinheiro a ninguém”.
“Ninguém vive da pintura.” Afinal os quadros dão dinheiro. Mas é
uma altura muito diferente. O meu pai morreu há quinze anos. Na altura não
havia Instagram. Nós conseguimos publicitar-nos. A vizinha, que é só a
vizinha do lado, pode ter visualizações. Acho que é muito mais justo e eu tenho
algumas amigas bloggers. É discutível – eu tenho esta discussão até com
o meu marido. Eu acho que não há profissão mais justa. Eu criei um perfil
no Instagram para o Tail to Tail e, como não gosto de mostrar os
trabalhos numa fase intermédia e também não quero dar muito de mim (tenho um
perfil pessoal, partilho o que vejo – raramente partilho o que estou a fazer,
mas se vejo uma coisa gira gosto de partilhar), de repente, comecei a perceber
que é muita difícil alimentar e publicar conteúdos.
A.R.: Conseguir falar para pessoas certas – para as pessoas para
as quais o nosso conteúdo é relevante –, também.
C.R.: Tornamo-nos responsáveis pelas
relações que criamos. O
facto de partilharmos a mesma educação e, por isso, o mesmo universo uniformiza
opiniões e as pessoas são, de facto, preconceituosas. O que é o
preconceito? Um pré-conceito. É conhecer a pessoa antes de a conhecer. “Nunca
mais vais voltar a trabalhar?”, perguntam-me. “Estás à procura de
emprego?”, perguntam-me. Há uma entrevista a Agostinho da Silva,
pelo Miguel Esteves Cardoso – em miúdo –, que defende que vai haver um dia em
que vamos viver do conhaque: vamos viver do prazer que as coisas nos dão.
"Tornámo-nos responsáveis pelas
relações que criamos."
A.R.: “Já reparou naquilo a que chamo a agonia do trabalho? Toda a nossa vida gira em função do trabalho. Quando se pergunta a alguém o que é, nunca temos a resposta: sou homem ou sou mulher. Diz-se: sou engenheiro, eletricista, médico. Só se é gente em referência ao trabalho. Um desempregado sente-se um pária e, todavia, ele é gente, a coisa mais extraordinária que se pode ser. Espero que as máquinas venham restituir às pessoas, aliviando-as do trabalho, a capacidade criativa, aquilo que nelas se oculta.” Agostinho da Silva, 1986
C.R.: Exactamente. Eu acho que eu sou mais interessante do que o
que faço. Vamos falar mais de mim e de ideias que eu tenha porque as pinturas
são acrílico sobre madeira. Fazemo-nos pessoas. Este ano eu o Gonçalo fizemos
uma viagem ao Japão. 20 dias. Cheguei a Portugal fascinada com o Japão porque, de
facto, aquilo funciona muito bem. São, só em Tóquio, 30 milhões de habitantes.
O sinal de trânsito está encarnado, ninguém passa. Vêem-se séries na rua –
pelos telemóveis – a atravessar a estrada porque não há um carro, de condução desenfreada,
que vá bater. Não há, no metro, ninguém que fale mais alto. Há uma
consciência global do espaço que ocupamos e do espaço que os outros ocupam. Por
outro lado, achei-os muito focados nas suas vidas individuais. No Japão,
justificam o facto de não terem filhos com trabalho. “Eu trabalho,
não tenho tempo para isso”. Têm muito a coisa da honra, de trabalhar para o
bem comum – mesmo quando se reformam. Todos os dias saem de casa e arranjam um
motivo para trabalhar. Com 70 e 80 anos. Têm uma necessidade de ser úteis para
a sociedade, com o trabalho. Vêem-se muitos carrinhos de bebés nos parques, mas
têm três ou quatro cães. Não têm filhos. O índice de natalidade é baixíssimo.
Mas eu vinha fascinada com a organização daquilo. Logo a seguir, aproveitei uma
estadia em Pipa, de três 3 dias, com uma amiga. Que chapada! Fomos as
duas, com a tripulação, dançar forró. Estava lá um nativo que nos puxou para
dançar. Ele dançava lindamente mas era um homem que não era apetecível como
homem, pelo que nunca teria vontade de dançar com ele. Veio buscar uma mulher,
veio buscar outra e veio buscar-me para dançar. Eu sou péssima a dançar. São
dois pés esquerdos. Ele tentou uma vez, tentou duas vezes. Eu tentei dançar
sempre com os meus namorados, com amigos meus e a conversa foi sempre a mesma. “Vá,
Catita, dois para a esquerda, um para a direita.” Este fez o mesmo uma vez.
Depois respondeu. “Te entendi, me leva que eu vou”. A dança é um
ritual de acasalamento e ele reconheceu que mulher é que eu sou. Nunca consegui
bater o passo certo com ninguém mas, com ele, eu dei o ritmo e, pela primeira
vez, consegui dançar. Pela primeira vez na vida tinha ali uma dança, com um
homem horroroso, medonho. “Que esperto! Ele reconheceu a fêmea!” –, pensei,
que é uma coisa de que nos estamos a afastar. Estamos a afastar-nos da nossa
intuição. Isto tem que ver com o acasalamento, com o que está a acontecer no Japão
– não prolongamos a espécie se caminhamos para um universo individual – e com o
instinto, com a nossa a capacidade para predizer o perigo e ajudar quem precisa
de ajuda. O Brasil ainda é animal. Achei mais bonito o caminho percorrido –
o lugar de onde viemos – do que o lugar para onde nos dirigimos.
"Achei mais bonito o caminho percorrido –
o lugar de onde viemos – do que o lugar para onde nos dirigimos."
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