Ana Rocha: Quem é a
Virgínia? Pessoa ou marca?
Virgínia: Não é (só)
uma marca. Lembro-me de ficar fascinada com os carrinhos de sobremesas dos
restaurantes dos anos sessenta, quando tinha que decidir o que queria pedir. A
escolha era difícil!, mas no final ganhava sempre o bolo de chocolate… (Risos).
Lembro-me também de que gostava de fazer bolos, e de cozinhar em geral. Que
ritual mágico! Eu via programas de culinária com um interesse velado e retirava
as receitas de onde podia mas acabaria, mais tarde, por enveredar pelo mundo da
moda. A culinária e a pastelaria ficaram ligadas à casa e à família até ao dia
em que decidi fazer uma troca. A minha bagagem como designer de moda – durante 15 anos – ajudou-me a criar uma estética
própria. Ajudou-me, também, a gerir a pesquisa necessária para fazer as minhas
próprias criações.
A.R.: Como
caracteriza a transição do estilismo para a pastelaria?
V.: Transição
lenta até decidir que é altura de mudar. Eu tinha economias – tinha dinheiro
para viver um ano ou dois sem me preocupar com o salário – e, um dia, fechei-me
em casa a fazer bolos para um catálogo. Comecei a oferecer caixinhas com
amostras e conquistei logo alguns clientes, para além dos meus sobrinhos e dos
filhos das minhas amigas, sempre bafejados com experiências. A coisa começa a
ir de boca em boca e faço uma carteira de clientes em dois ou três anos.
Lentamente, começo a deixar uma coisa e a fazer outra. É nesta altura que abro
a Virgínia, aqui; quando a coisa toma uma proporção séria.
A.R.: O que define a estética própria e as criações?
V: O meu marketing é a minha qualidade. Não gosto
de trabalhar virtualmente: gosto de ter um objectivo, um propósito. A relação
directa que estabeleço com os clientes é a minha (outra) fonte de inspiração.
Gosto de conhecer para quem estou a trabalhar. Os meus trabalhos nascem das
ideias que fluem entre mim e os clientes. E trabalho hoje com a mesma dedicação
de há dez anos atrás, quando estava a começar.
A.R.: Formação em
pastelaria, tem?
V.: Não tenho.
O que sei aprendi (maioritariamente) em livros. Há, ainda, muito por descobrir.
Eu costumo dizer que se não estivesse ocupada a fazer bolos ia aprender a fazer
bolos.
A.R.:
Aconselharia alguém a investir em negócio próprio?
V.: Aos que
procuram por liberdade... Sim! É uma liberdade relativa, mas aconselharia, em
qualquer área. As coisas não precisam de ser muito difíceis para terem valor.
Lembro é que trabalho é trabalho e, se assim não fosse, chamar-lhe-íamos não
trabalho mas outra coisa qualquer.
A.R.: É pessoa
profissionalmente realizada?
V.: Sim:
consegui mais do que alguma vez imaginei. O segredo talvez esteja em começar
todos os dias como se fosse o primeiro.
A.R.: Que
mensagem para os leitores?
V.: Tomem a
decisão de escolher os vossos sonhos e de acreditar. É (sempre) preciso
acreditar. Também é preciso ter um foco, um objetivo específico, e a capacidade
de encarar a realidade do possível – do que está ao nosso alcance – conhecendo
aquilo de que somos capazes. É preciso fazer uma fusão entre o sonho e a
realidade. E a realidade está aqui: há sempre algo que conseguimos fazer bem.
Rua de Ceuta, 73
4051-191, Porto
917831744
(Informações e marcações por
telemóvel)
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