À Marta Vilarinho de Freitas, arquitecta licenciada no coração da cidade invicta,
fiquei a conhecer primeiro as mãos. Corrijo-me – que tolice! –, quero dizer: pelo projecto “As cidades e a memória – a Arquitectura e a Cidade”, a Marta despertou a
minha atenção. Mestre em Arquitectura
pela Escola Superior Artística do Porto – desde 2009 – a cidade é o tema
recorrente. O Porto, quem lhe merece maior destaque. Falei com ela
porque queria uma entrevista. A Marta desafiou-me a escrever sobre as suas
cidades.
Aqui está:
Italo
Calvino, autor d’As Cidades Invisíveis, é nome incontornável. Despido da
rigidez a que a arquitectura nos obriga – como se o urbanismo de um “esquema geométrico implícito nos mínimos
detalhes”, perfeito, se tratasse –, Calvino romantiza (polemiza?) a relação
do Homem com a Cidade. Para o escritor italiano, “o olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz
tudo o que se deve pensar”.
Marta Vilarinho de Freitas concorda. Em “As cidades e a memória – a Arquitectura e a
Cidade”, a arquitecta desenha uma memória que é sua, sobre cidades de muitos,
numa ode a essa obra que é de um outro indivíduo, singular.
Dizer que a memória
é coisa incerta. Se Marta Vilarinho de Freitas desenha o Porto, outras cidades,
ou o Porto n’outras cidades não se sabe. Parafraseio Italo Calvino. Talvez
Marta Vilarinho de Freitas só tenha falado do Porto; talvez Marta Vilarinho de Freitas só tenha falado sobre outras cidades.
De traço perfeito e em preto sobre branco, a cor
guarda os detalhes, segredos e estórias que, vividas, só assim – mão e coração
– a Marta nos sabe contar.
SOBRE A
AUTORA
Marta Vilarinho de Freitas é arquitecta – e foi a sua paixão pelo desenho de arquitectura que a
motivou a desenvolver o projecto “As cidades e a memória – a Arquitectura e a
Cidade”, um conjunto de intrincadas ilustrações de cidades que focalizam o
universo da arquitectura e o seu mundo criativo e fascinante.
O tema da
Cidade, recorrente nos seus desenhos, está directamente relacionado com o mundo
da arquitectura, da história, dos edifícios, das fachadas, das ruas e das
pessoas. São tecidos urbanos marcantes e surpreendentes, onde se cruzam
histórias e se celebra a vida.
Licenciada
bem no coração da invicta, sempre o Porto mereceu destaque especial nos seus
desenhos; a beleza da cidade, a sua arquitectura ímpar e a sua história,
concentram no seu projecto o rendilhado de casario, a complexidade de ruas e
vielas e entrosadas varandas e varandins.
Nos seus
desenhos, há uma forte relação com a arquitectura, há a vontade de conhecer o
espírito do lugar, da cidade, os seus padrões, a cor, a luz, o ambiente, a
profusão de fachadas e telhados, de janelas e cúpulas, fazendo de cada desenho
uma obra única.
Explora a
pormenorização e o detalhe, o contraste entre a realidade e a fantasia, o
passado e o presente.
Imprime o carácter ilusório, da
imaginação, aliado ao rigor arquitectónico, da construção, do mundo a preto e
branco ou mergulhado em cor.
O método que
utiliza – caneta sobre papel – com um traço muito fino, permite captar e
representar os mais pequenos detalhes. De uma forma implícita, as “suas”
cidades são humanizadas, através da caracterização minuciosa de pormenores,
deixando adivinhar vidas e histórias de quem nelas habita.
Estas
cidades, reais ou imaginárias, surgem sempre de uma visão pessoal, são o
reflexo do percurso pela arquitectura, da absorção de imagens, de paisagens, de
memórias guardadas ou instantes vividos.
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