A Livraria Lello foi fundada, em 1881,
por José Lello e António Lello. Os dois irmãos abriram uma livraria que não era
esta livraria – estava localizada na
Rua do Almada, n.º 244, no Porto – quando, no início do
século XX, decidiram construir uma livraria de raiz.
Este edifício, inaugurado em 1906, é considerado por muitos como uma
das mais bonitas livrarias do mundo e tem a particularidade de não ser uma
adaptação. Foi erguida para o uso que tem e que sempre teve, o de ser uma livraria.
Recentemente, a Livraria Lello tem sido referida em rankings internacionais e tem-se criado uma ligação muito grande com J.K. Rolling, autora de Harry
Potter. Ainda que a escritora, em biografias oficiais, jamais se tenha referido
à livraria, há coincidências curiosas. O seu primeiro livro, por exemplo, tem
por nome “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. Ora, a Pedra Filosofal é um poema
de António Gedeão.
Ana Rocha: Como é que a Livraria Lello moldou o Porto?
Manuel de Sousa: A Livraria Lello foi muito importante para a vida cultural da cidade –
não só do Porto, como da própria Lusofonia, principalmente do Brasil. Atualmente,
é uma das grandes atracções turísticas do Porto. Recebemos – o número varia de
acordo com a época do ano – entre mil a 3 mil visitantes por dia.
A.R.: Quem são os grandes consumidores: portugueses ou
estrangeiros?
M.S.: Estrangeiros. À cabeça deles, os espanhóis. Depois
os franceses, os portugueses, os brasileiros… E, por fim, todas as
nacionalidades do mundo. Somos, a propósito, responsáveis por 73% da literatura
espanhola vendida em Portugal.
A.R.: Que autores se destacam em vendas?
M.S.: J. K. Rolling, Antoine de Saint-Exupéry – O
Principezinho –, Saramago e Fernando Pessoa.
A.R.: De que forma é que a Livraria Lello – que é uma livraria
de rua – se adapta ao mundo online?
M.S.: Há vários pontos a considerar. Em primeiro lugar
parece-me que a internet, com os suportes que oferece, representa um
desafio que é transversal a todas as áreas de comunicação – inclusive aos
jornais. Ora, a Livraria Lello não vende livros online: apenas o voucher
de entrada na livraria. Acredito que o livro ocupa um lugar importante e, até
certo ponto, insubstituível. A textura, o cheiro e a mobilidade que um livro permite
não são facilmente transpostos para outros suportes, pelo que as pessoas continuam
a valorizá-lo. E mesmo que, no futuro, essa tendência se altere por completo,
haverá sempre alguém que procura o que é mais tradicional. Seja como for, pelo
menos para já, o livro não corre o risco de desaparecer.
A.R.: Há, por
parte da Livraria Lello, um apelo à tradição?
M.S.: Não é propriamente
um apelo à tradição. A verdade é que o livro continua a vender. Como disse, ainda
não foi encontrado um formato que substitua satisfatoriamente o livro. O livro
continua, por isso, a ser o suporte ideal na apresentação e difusão da
informação, do conhecimento e do entretenimento.
A.R.: A Livraria Lello já tentou entrar em contacto com J. K. Rolling?
M.S.: A Livraria Lello, diretamente, não. No entanto, sei que há um projeto
– da própria cidade – para a contactar. Não sei se se irá concretizar ou não.
Pessoalmente, parece-me interessante que a autora faça as pazes com o Porto e
que, idealmente, reconheça a grande influência da Livraria Lello sobre a sua obra
(risos). Estou a brincar... Mas seria muito bom que ela nos visitasse um dia.
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