sábado, 22 de outubro de 2016

Dores de FOME: HUNGRY DOG FROM PORTO



Ana Rocha: Quem é o Dores de FOME?
Dores de FOME: O Dores de FOME é um jovem adulto. Não posso dizer que é um rapaz... Preferia que fosse - mas é jovem adulto. É de Gaia. É designer de dia e ilustrador nas horas livres e gosta muito de fazer desenhos, pintar e fazer bonecos.
A.R.: O Dores de FOME é um heterónimo?
D.F.: Não, é um pseudónimo. Prefiro ocultar a minha identidade pessoal, dissocia-la de quem sou enquanto artista. Foi isso que fiz até agora e assim tenciono continuar. Embora não saiba o que me reserva o futuro.
A.R.: Porquê o pseudónimo, então?
D.F.: Ao pintar na rua, incorro em riscos que não conheço. Não sei, por exemplo, a quem pertencem as propriedades.
A.R.: Pintas ilegalmente? Fiquei a conhecer o teu trabalho porque vi a tua parede na Rua da Restauração. Essa, suponho, é legal.
D.F.: Sim, essa sim. Pinto algumas coisas. Às vezes trabalho de fato e gravata, e sou um homem simpático e cordial. Outras vezes pinto na rua: sou livre.
A.R.: Não reconhecem o teu trabalho?
D.F.: Acho que sim. O meu universo visual é quase sempre o mesmo. Personagens divertidas, estórias não muito profundas…
A.R.: Estórias?
D.F.: Eu desenho personagens que estão em acção, há sempre uma pequena estória. 
A.R.: Crias as estórias antes de as pintar? 
D.F.: Sim, mas a interpretação é livre. Não encerro a estória na forma como a contei para a mim mesmo, ao criá-la.
A.R.: Qual é a tua formação?  
D.F.: A minha formação… Cartoon Network e Canal Panda, para começar. Também fiz Design Gráfico na ESAD. Ainda assim, parece-me que a formação não acontece só na escola: antes a partir de tudo o que te prepara para a vida.
A.R.: Há quanto tempo te preparas para a vida na rua, a pintar?
D.F.: Há dois anos ou três. Já pintava quando era adolescente, mas houve um problema e eu, na altura, parei. Voltei agora por me parecer que pintar na rua pode tornar a minha vida mais interessante – mais do que quando tudo o que faço é expressar-me através de um lápis sobre um papel. Ao pintar na rua tenho que escolher o sítio e preparar o material. Isso, por si só, torna a experiência dinâmica e excitante. Mas faço-o, também, pelo destaque que me dá. Desta forma, dou a quem de outra forma não reconheceria o meu trabalho a oportunidade de o apreciar.
A.R.: Então e a parede na Rua da Restauração, como surgiu essa oportunidade?
D.F.: Há, anualmente, um concurso para o qual os interessados devem enviar os projectos. Desses, são escolhidos seis candidatos. Uma vez aceite a proposta, o trabalho é posto em prática e fica exposto durante um ano.
A.R.: Foi a primeira vez que foste convidado, oficialmente, para pintar uma parede?
D.F.: Não, se não numa escala tão grande. Já fui convidado para fazer trabalhos mais pequenos. A convite da Câmara, no entanto, numa parede pública, foi a primeira vez.
A.R.: Essa oportunidade abriu porta a outras oportunidades, de foro, por exemplo, mais social?
D.F.: Com outros artistas, mas não com o público em geral.
A.R.: O que é que te inspira?
D.F.: Gosto muito de animais; gosto das experiências que aprecio nos transportes públicos. Sei que esta não é, de todo, uma resposta intelectual, mas é a mais genuína: inspira-me a realidade quotidiana. Gosto de observar os comportamentos das pessoas e de brincar com isso, através do desenho.
A.R.: Podemos considerar-te um storyteller?
D.F.: (Risos) Acho que sim. Tenho alguma dificuldade em definir-me – até porque uma definição pode ser limitadora –, mas podemos dizer que sim. As minhas histórias contam-se com imagens, não com palavras, no entanto.
A.R.: É muito diferente o trabalho que exerces na qualidade de designer?
D.F.: Profissionalmente não tenho (muita) liberdade criativa, mas um trabalho alimenta o outro.
A.R.: Gostavas de trabalhar apenas como street artist?
D.F.: Sem dúvida!
A.R.: Gostavas de comercializar o teu trabalho?
D.F.: Se com isso conquistasse liberdade profissional, sim.
A.R.: Quais te parecem ser, de momento, os maiores desafios? Conquistar a tua identidade artística foi, em tempos, um?
D.F.: Não considero que esteja, ainda, construída – é um processo cumulativo. Quanto aos desafios… Gostava de pintar, no futuro, mais longe de casa, quiçá em Lisboa, quiçá no estrangeiro.
A.R.: Qual é a melhor forma de acompanharmos os teus projectos?


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