Ana Rocha: Quem é o Dores de FOME?
Dores
de FOME: O Dores de
FOME é um jovem adulto. Não posso dizer que é um rapaz... Preferia que fosse - mas
é jovem adulto. É de Gaia. É designer
de dia e ilustrador nas horas livres e gosta muito de fazer desenhos, pintar e
fazer bonecos.
A.R.: O Dores de FOME é um heterónimo?
D.F.: Não, é um pseudónimo. Prefiro ocultar
a minha identidade pessoal, dissocia-la de quem sou enquanto artista. Foi isso
que fiz até agora e assim tenciono continuar. Embora não saiba o que me reserva
o futuro.
A.R.: Porquê o pseudónimo, então?
D.F.: Ao pintar na rua, incorro em riscos
que não conheço. Não sei, por exemplo, a quem pertencem as propriedades.
A.R.: Pintas ilegalmente? Fiquei a conhecer
o teu trabalho porque vi a tua parede na Rua da Restauração. Essa, suponho, é
legal.
D.F.: Sim, essa sim. Pinto algumas coisas.
Às vezes trabalho de fato e gravata, e sou um homem simpático e cordial. Outras
vezes pinto na rua: sou livre.
A.R.: Não reconhecem o teu trabalho?
D.F.: Acho que sim. O meu universo visual é
quase sempre o mesmo. Personagens divertidas, estórias não muito profundas…
A.R.: Estórias?
D.F.: Eu desenho personagens que estão em acção,
há sempre uma pequena estória.
A.R.: Crias as estórias antes de as pintar?
D.F.: Sim, mas a interpretação é livre. Não encerro a estória na forma como a contei para a mim mesmo, ao criá-la.
A.R.: Qual é a tua formação? A.R.: Crias as estórias antes de as pintar?
D.F.: Sim, mas a interpretação é livre. Não encerro a estória na forma como a contei para a mim mesmo, ao criá-la.
D.F.: A minha formação… Cartoon Network e Canal Panda, para
começar. Também fiz Design Gráfico na ESAD. Ainda assim, parece-me que a
formação não acontece só na escola: antes a partir de tudo o que te prepara
para a vida.
A.R.: Há quanto tempo te preparas para a
vida na rua, a pintar?
D.F.: Há dois anos ou três. Já pintava quando
era adolescente, mas houve um problema e eu, na altura, parei. Voltei agora por
me parecer que pintar na rua pode tornar a minha vida mais interessante – mais
do que quando tudo o que faço é expressar-me através de um lápis sobre um
papel. Ao pintar na rua tenho que escolher o sítio e preparar o material. Isso,
por si só, torna a experiência dinâmica e excitante. Mas faço-o, também, pelo
destaque que me dá. Desta forma, dou a quem de outra forma não reconheceria o
meu trabalho a oportunidade de o apreciar.
A.R.: Então e a parede na Rua da
Restauração, como surgiu essa oportunidade?
D.F.: Há, anualmente, um concurso para o
qual os interessados devem enviar os projectos. Desses, são escolhidos seis
candidatos. Uma vez aceite a proposta, o trabalho é posto em prática e fica
exposto durante um ano.
A.R.: Foi a primeira vez que foste
convidado, oficialmente, para pintar uma parede?
D.F.: Não, se não numa escala tão grande.
Já fui convidado para fazer trabalhos mais pequenos. A convite da Câmara, no
entanto, numa parede pública, foi a primeira vez.
A.R.: Essa oportunidade abriu porta a
outras oportunidades, de foro, por exemplo, mais social?
D.F.: Com outros artistas, mas não com o
público em geral.
A.R.: O que é que te inspira?
D.F.: Gosto muito de animais; gosto das
experiências que aprecio nos transportes públicos. Sei que esta não é, de todo,
uma resposta intelectual, mas é a mais genuína: inspira-me a realidade
quotidiana. Gosto de observar os comportamentos das pessoas e de brincar com
isso, através do desenho.
A.R.: Podemos considerar-te um storyteller?
D.F.: (Risos) Acho que sim. Tenho alguma
dificuldade em definir-me – até porque uma definição pode ser limitadora –, mas
podemos dizer que sim. As minhas histórias contam-se com imagens, não com
palavras, no entanto.
A.R.: É muito diferente o trabalho que
exerces na qualidade de designer?
D.F.: Profissionalmente não tenho (muita)
liberdade criativa, mas um trabalho alimenta o outro.
A.R.: Gostavas de trabalhar apenas como street artist?
D.F.: Sem dúvida!
A.R.: Gostavas de comercializar o teu
trabalho?
D.F.: Se com isso conquistasse liberdade
profissional, sim.
A.R.: Quais te parecem ser, de momento, os
maiores desafios? Conquistar a tua identidade artística foi, em tempos, um?
D.F.: Não considero que esteja, ainda,
construída – é um processo cumulativo. Quanto aos desafios… Gostava de pintar,
no futuro, mais longe de casa, quiçá em Lisboa, quiçá no estrangeiro.
A.R.: Qual é a melhor forma de
acompanharmos os teus projectos?
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