Ana
Rocha: Amarelo Torrada.
Porquê?
Mariana
Leão: A ideia inicial
não era Amarelo Torrada. Não o nome, nem o conceito. Mas depois de provar oportunamente
o pão e de saber as variedades que tem passou a ser impossível resistir-lhe. Passou
a fazer todo o sentido tornar o pão no principal ingrediente do negócio. É um
pão muito especial. Fica, se bem confeccionado, fofinho por dentro e crocante
por fora. Para além disso, o facto de levar a noz e a avelã – que depois de
torradas ficam com um sabor mesmo diferente –, e de se fazer acompanhar por
compotas… Ajuda a melhorar a torrada. Ainda que seja muito boa só com manteiga.
A.R.:
Qual era, então, a
ideia inicial?
M.L.: A ideia inicial era compilar todos os
doces do país – a Torta de Azeitão, a Bola de Berlim de Viana, o Travesseiro de
Sintra – no Porto. E o nome seria A Nacionalista. Mas foi levado para a parte
política, embora não tivesse nada que ver comigo. É que eu gosto muito de tudo
o que é nosso. Mas Amarelo Torrada ficou ainda melhor. É o nome que lhe dei. E
soa bem.
A.R.:
Porquê Amarelo
Torrada, então?
M.L.: O nome surgiu numa conversa com a
minha irmã. Pensamos que o espaço era amarelo e que a torrada é amarela e que,
por isso, Amarelo Torrada tinha tudo a ver. Mas o Amarelo Torrada não é só Torradas. Temos Tostas, que são feitas no mesmo pão. Temos Wraps. Temos os doces, confeccionados maioritariamente por nós – como
o Bolo de Chocolate, que já faz o seu furor. Os Scones são receita lá de casa, também
aprimorada, e saem normalmente duas fornadas por dia. Há horas – depois de
almoço, às 15h – em que as pessoas já sabem que saem scones quentinhos, muito
bons. E, depois, há toda uma variedade
de chás que são fora de comum. São misturas exclusivas, e a carta foi feita
propositadamente para o Amarelo Torrada, por uma especialista de misturas de
chás.
A.R.: Se quiséssemos pôr um rosto no Amarelo
Torrada, que rosto seria esse? Quem é o seu fundador?
M.L.: Por trás do Amarelo Torrada estou mesmo
eu. Há apoio familiar, mas é um projecto meu – de Mariana Leão.
A.R.:
E quem é a Mariana
Leão?
M.L.: A Mariana é uma menina mulher que
sempre trabalhou em Hotelaria, que tem bastante perseverança – não sou nada
presunçosa! – e que está habituada a trabalhar bastantes horas, com uma capacidade
de trabalho que a satisfaz. Sou mesmo
apaixonada pela área. Adoro receber, adoro proporcionar momentos bons às
pessoas. E já existia uma vontade grande de ter um espaço meu – um espaço em
que pudesse fazer as coisas como eu achava que estavam bem e correctas, para
melhor receber.
A.R.:
Pode dar-me um
exemplo?
M.L.: Dou dois ou três exemplos. Eu ia
tomar um pequeno-almoço fora e achava que a meia-de-leite nunca correspondia. Tinha
sempre que pedir duas, porque não era suficiente para acompanhar com a torrada.
E a torrada ora estava torrada de mais, ora torrada de menos. Às vezes a
manteiga estava toda no centro – numa quantidade ridícula – e, outras vezes, não
tinha nenhuma, quando a gente pedia pouca. É a
esses pormenores que eu dou muita atenção e com os quais muito dificilmente
vacilo. A minha torrada é torrada na perfeição – nem muito torrada, nem pouco
torrada, a não ser que o cliente assim pretenda – e a meia-de-leite é grande, porque
se o cliente quiser menos bebe só metade, mas se efectivamente quiser beber
bastante… Para
mim, tem que ver com a sensibilidade e com o gosto em dar prazer, com o estar
lá para servir os outros quando estão a relaxar. A Mariana é isso: uma menina mulher
que trabalhou alguns anos em hotelaria e que, ao fim de alguma maturação, achava
que tinha tudo para avançar… E avançou! Faz hoje, exactamente, dois anos e
meio.
A.R.:
Que idade tem?
M.L.: 34.
A.R.: Porquê menina mulher?
M.L.: Porque sou extremamente alegre,
divertida e feliz – como as crianças aparentam ser. Não sou ingénua, mas
acredito muito. As crianças são ingénuas e puras. E eu sou muito positiva,
muito amiga do outro, muito… Bem disposta.
A.R.:
Tenciona abrir mais
Amarelo Torrada?
M.L.: Tencionar e concretizar são coisas
diferentes. Qualquer negócio tem perspectivas de crescimento. Replicá-lo é
sempre bom e é sempre uma vontade dos audazes e visionários. É minha vontade. Mas
penso muitas vezes que o Amarelo Torrada – e não é querer ser egocêntrica ou cair
em sobrevalorização – é muito Mariana. E, se abrir outro Amarelo Torrada, não
vai haver outra Mariana. Eu sou uma falsa empresária. Não vejo
isto como um negócio. Então não consigo posicionar-me muito bem. Idealizo. Sonho.
Planeio. Mas a curto prazo, não. Abrir um novo espaço com o mesmo nome é um
passo que requer boas bases. Implica uma equipa consistente o suficiente para
que todo o conceito que foi pensado, sentido e criado passe também.
A.R.:
Qual é o conceito do
Amarelo Torrada?
M.L.: O conceito do Amarelo Torrada… Às
vezes pergunto-me o que é o Amarelo Torrada. Uma cafetaria? Uma casa de chás?
Um café? O Amarelo Torrada… Ainda hoje não encontrei a palavra certa para o definir.
Sim, pode ser uma casinha de chás. Uma casinha, pelo seu aspecto de decoração
romântica. De chás, porque é uma das bebidas com mais saída. Poderá ser chamada
uma casinha de chás… Mas acho que o Amarelo Torrada é um espaço. Um espaço em
que se pretende que a pessoa se sinta confortável, acolhida, bem recebida – com
o receber educado, genuíno e natural. O
Amarelo Torrada é uma casa. Um espaço que gosta de receber pessoas e de lhes
proporcionar bons momentos, a comer… Torradas! É
importante dizer que o Amarelo Torrada não é feito só de torradas. E esperamos
poder trazer algumas novidades em breve.
Rua José Falcão, 29
4050-316 Porto – 223 216 775
amarelotorrada @hotmail.com
Fotografia:
Eliesley Soares
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